-Hassan, eu preciso de ajuda!
-Quem é você?
-Sou eu, o Marcelo!
-Marcelo? Nossa, você desapareceu a meses. Achamos que tinha voltado para o Brasil.
Por que está usando roupas de mulher?
-É uma longa história.
-Lembra da última vez que nos vimos? Eu saí daquele bar de nargille e resolvi passear pela cidade. Entrei em um beco sem querer, então três homens me roubaram. Além do dinheiro levaram minhas roupas, pois o terno que eu usava era bem caro.
-Puxa. Eu te avisei para não andar pela cidade sozinho.
-Quando foram embora, vi um varal com roupas penduradas. Pulei o muro e pequei algumas.
-Você roubou?! Sabe o que fazem com labrões neste país?
-Sim, mas tinha um bom motivo. Bem, só depois de correr e me esconder vi que eram roupas de mulher. Para não continuar pelado eu vesti.
-Então fui procurar a polícia.
-Você o quê? Roubou roupas, se vestiu de mulher e foi até a polícia? Sabe que está em um país muçulmano ultra-conservador.
-Agora sei disso. Bem, chamaram um intérprete que mal falava minha língua, mas quando contei o que aconteceu ele pediu para mudar minha história. Não falar do roubo.
-Fez bem, mas o que você contou então.
-Ele me aconselhou a dizer que eu era transexual. Uma mulher em corpo de homem, pois se achassem que sou homosexual poderia ter problemas. E eu fiz isso.
-Não sabe o que fez. Desde a década de oitenta, transexuais são obrigados a passar por cirurgia. Isso é lei aqui e... não quer dizer que...
-Eles me algemaram e mandaram para um hospital. Me trataram bem, mas ninguém falava minha língua lá. Havia um guarda na porta o tempo todo e era impossível fugir. Apartir deste passei por várias cirurgias. Eu apagava e acordava cheio de ataduras e me sentindo diferente.
-O que fizeram com você Marcelo?
-Bom, pra começar eles encurtaram as minhas pernas.
-Puxa, achei que era impressão por causa do vestido, mas então você esta mesmo bem mais baixo.
-Sim. Por semanas eu não conseguia andar, mas quando consegui ficar em pé vi que agora era da mesma altura de uma enfermeira que antes era menor que eu. Não sei que tecnologia eles usam, pois minhas pernas não ficaram com cicatrizers... olha.
-Incrível!
-Também colocaram implantes no meu bumbum e quadris.
-Mostra.
-Olha...Agora tenho esta bunda enorme e ridícula.
-Nossa!!
-Sinto ela chacoalhar quando corro, e sentado parece que estou em cima de uma almofada!
-Mas a pior parte ainda estava por vir. Até então eu torcia para apenas mudarem a minha aparência. Então certo dia eu acordei da anestesia e...
-Eu fiquei com ataduras e uma sonda por alguns dias. Depois o médico tirou tudo, pegou um espelho e me mostrou. Achei que estavatendo um pesadelo, quando olhei e vi uma vagina entre as minhas pernas. Eles sorriam achando que meu choro era de felicidade.
Um dia o médico me examinou, depois olhou e apertou meus seios e fez sinal negativo com a cabeça.
Os hormônios que vinham me injetando criaram seios pequenos, mas parece que não era suficiente.
Dias depois fizeram outro procedimento que me deu estas tetas.
Então depois de me recuperar me liberaram. Eu não estava com medo, não tinha pra onde ir, então me lembrei do seu endereço. Hassan você é o único amigo que fiz aqui.
Momentos depois.
-Obrigado pelo café, Hassan.
-O que pretende fazer agora? Voltar para o Brasil?
-Bem que gostaria. mas estou preso aqui. Pegaram meu passaporte. Vou ter de passar por exames a cada quinze dias, para checarem como estou e se estou tomando os hormônios. Também terei de frequentar um curso, onde vão me ensinar sobre a minha nova condição, sobre como ser uma mulher neste país.
-Puxa Marcelo, com certeza não era o que imaginava quando veio trabalhar aqui. Mas como posso te ajudar?
-Bem, eu estou sem dinheiro ou documentos. O hotel onde estava mandou minhas coisas para um depósito, e nesta minha condição não consigo requisitá-las.
-Posso te arranjar um pouco de dinheiro.
-Dinheiro não resolve meu problema, até porque aqui é dificil para uma mulher sem um homem alugar um apartamento.Preciso de um lugar para ficar. Poderia ficarf aqui, até resolver o meu problema?
-Ficar aqui? Se fosse homem não teria problema, mas uma mulher?
-Não precisa me lembra que sou uma porra duma mulher. Pode me ajudar ou não?
-Me descupe Hassan. Não queria ser rude. Mas estou sob muito stress.
-Eu entendo Marcelo. Mas aqui as coisas são diferentes. Não posso simplesmente trazer uma estranha para casa. A não ser que...
-...fôssemos marido e mulher!
-Quer dizer, você e eu... casarmos?!
-Sim. Você seria uma moça que conheci quando trabalhei no Brasil. Nos casamos lá mas só veio agora por questões de família. Seria perfeito!
-Não sei. Eu casado com um homem?
-Poderia morar comigo e ninguém estranharia. Como minha esposa seria aceita e respeitada por todos. Aqui quem mexe com mulher casada se dá muito mal. Claro que seria apenas de faixada.
-Bem, sendo assim. Eu nunca imaginei dizer isto a outro homem, mas...
eu aceito ser a sua esposa Hassan.
-Ótimo! Saiba que pra mim também é estranho, mas é o único jeito de te ajudar meu amigo.
-Eu sei, e sou muito grato por isso.
-Bem, levante-se. Vou te mostrar a casa e o seu quarto.
-Olha, não tenho como te pagar, mas farei o trabalho de casa para te compensar Hassan.
-Legal, mas daqui pra frente não me chame mais de Hassan. Deve me chamar de meu marido ou senhor. Precisa praticar para quando estivermos na presença de outros.Como marido terei de te chamar de Marcela, mulher ou minha esposa.
-Entendo Ha... meu marido.
-Bom. Venha minha esposa. Vou to mostrar o seu novo lar.
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